segunda-feira, 2 de novembro de 2009

SÍSIFOS?

por Demetrius Oliveira Thaim

Em sua obra Trópico de Câncer, Henry Müller escreve: “o homem com fome não é nada, a não ser um estômago rodeado de órgãos acessórios”. Charles Bukowski reafirma a frase de Müller ao escrever na obra Factótum: “a alma de um homem está profundamente enraizada em seu estômago”. Ambos passaram por momentos que são resumidos pela busca diária de um prato de comida (para ser honesto, Bukowski se interessava pelas bebidas). Busca do mínimo para suas sobrevivências! Claro que, posteriormente, alcançaram a fama e os problemas deste tipo foram ‘resolvidos’, ou seja, suas aventuras e desventuras foram temporárias, mas profundas a tal ponto de serem implicitamente retomadas em seus textos. Mas, a partir da leitura destes livros, surgiu a pergunta: e aqueles que cotidianamente sofrem por isso e, mais ainda, sem possibilidade de saírem desta busca? Aqueles que, além da procura diária por um prato de comida, têm a visão rotineira da violência, a sensação dolorida da indiferença, a certeza latente da exclusão?

Diante de tais fatos podemos nos perguntar se nossas atitudes como voluntários da ONG podem efetivamente proporcionar algum tipo de transformação dentro de tal comunidade já que nossos encontros são quinzenais, quatro horas, enquanto, que nossos educandos são diariamente expostos a tais situações. Nosso trabalho seria, então, inútil? Sem sentido? Pois, não enxergamos concretamente o resultado de nossos esforços?

--- Não adianta! Eles são assim mesmo!

Creio que nos movimentamos num espaço em que os resultados devem ser pacientemente gestados. Num espaço em que a esperança de uma transformação – que transformação? – deve ser buscada com insistência e, novamente, com muita paciência. Não acredito que nosso trabalho seja vão, mas é preciso perseverar e, mais ainda, lidar de frente com o fato de nossos esforços, por vezes, não trazerem os resultados que esperamos.

Lembro de Sísifo que foi condenado a rolar, eternamente, uma pedra para o cume de uma montanha. Chegando ao alto, a pedra rolava para baixo e, mais uma vez, ele a levava para cima. Parece-nos que Sísifo foi condenado a uma atividade sem sentido, uma atividade que não possui nenhum resultado e, mais ainda, exige esforços repetidos que não levam a nada. Por que Sísifo não deixou a pedra rolar por cima dele, matando-o e livrando-o dessa tarefa? Porque Sísifo aceitou seu ‘castigo’ e preferiu assumi-lo a fugir.

Podemos dizer que nossas atividades assemelham-se a aceitação de Sísifo? Ter consciência que carregamos uma enorme pedra e aceitamos o desafio de, constantemente, levá-la para o alto. Um esforço repetitivo – inútil? – mas, consciente. Sua subida e descida é movimento firme da aceitação de sua tarefa, o esforço constante da responsabilidade. Não fugimos. Não aceitamos explicações convenientes. Não damos soluções sem sairmos de casa. Aceitamos e sujamos as mãos. Enfim, assumimos! Como diz Camus: “É preciso fazer Sísifo feliz”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário